Search
Close this search box.

Artigo

A democratização da moradia e a “declaração da independência” dos brasileiros

Publicados

em

 

Autora: Emanuelle Demori Bardeja*

Os momentos mais felizes da minha vida foram aqueles, poucos, que pude passar em minha casa, com a minha família“.

A frase escrita por volta de 1770 por Thomas Jefferson, autor do texto da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, retrata um sentimento compartilhado pela grande maioria das pessoas.

Ter um imóvel é o sonho de 87% dos brasileiros entrevistados pela pesquisa feita entre o Censo de Moradia QuintoAndar e o Instituto Datafolha, publicada em fevereiro deste ano. Resultado do ainda presente déficit habitacional – estimado em 5,8 milhões de moradias, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) –, os governos nas esferas nacional e estadual têm implementado programas de estímulo ao setor tais como o Casa Verde e Amarela e o Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS). Mas, apesar dos honrados esforços, o déficit ainda persiste.

Atentas à situação e dispostas a mudar a realidade de milhares de famílias, construtoras e incorporadoras de todo o país têm firmado parcerias com secretarias de habitação e estabelecido cooperação com os programas habitacionais. Os benefícios se apresentam na forma de subsídios na entrada, descontos no valor do imóvel ou juros menores nas taxas. As iniciativas são mecanismos de facilitação do acesso de amplas camadas da população à sonhada casa própria, em áreas com urbanização adequada e infraestrutura viária.

O maior programa em vigor, atualmente, é o Casa Verde e Amarela (que substituiu o Minha Casa Minha Vida), coordenado pela Secretaria Nacional de Habitação (SNH) do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), e que já conquistou a marca de 1 milhão de imóveis entregues ao longo dos treze anos em que está vigente. Amplamente divulgadas, as vantagens do programa incluem descontos, condições de pagamento e taxas de juros alinhadas com a renda de cada família interessada, além de financiamento da compra de imóvel novo, usado, ou ainda, a construção e reforma de moradias em área urbana.

Além do Casa Verde e Amarela, a cada ano o governo federal anuncia novas medidas que visam facilitar o acesso à moradia, como mudança em taxas, aumento do teto da renda e subsídios para categorias específicas, como foi o caso do Habite Seguro, lançado em 2021, especificamente para profissionais da área de segurança. Ainda no ano passado, no Paraná, famílias com cadastro válido na Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) começaram a ser beneficiadas pela nova modalidade do programa habitacional Casa Fácil Paraná. O programa prevê subsídio de R$ 15 mil para que os beneficiários possam dar entrada em imóveis financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF) e, ainda, se somam ao subsídio do governo federal. A previsão é que 30 mil famílias sejam beneficiadas em todo o estado ao longo de 2022.

No final do mês de fevereiro, o governo também anunciou a nova curva de subsídio do programa, que deve entrar em vigor ainda em abril. Antes, a curva era calculada levando em consideração a região geográfica e o porte do município onde imóvel a ser financiado estava localizado. Agora, outras variáveis entram em cena como, por exemplo: área do imóvel, participação em recursos próprios da família, estado de localização do imóvel, que levará em conta a relação média aferida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da renda e despesas das famílias. Entendo como iniciativa justa e adequada que alinha a curva de subsídios à renda das pessoas.

Certamente, subsídios a um maior número de pessoas pode significar o acesso real ao crédito imobiliário, porque irão compor total ou parcialmente a entrada do imóvel. Todas essas medidas são fundamentais para que o Brasil caminhe para a diminuição considerável do déficit habitacional e, para isso, é importante que se mantenham os recursos para o fundo de financiamento das políticas públicas de habitação, saneamento e mobilidade urbana, como o FGTS. Tão importante quanto, é a parceria dos municípios com as construtoras e incorporadoras, que, neste modelo de programa, são úteis à natureza do negócio da construção civil e, mais ainda, à população.

Mais que ser feliz na própria casa, com a família, é a conquista da independência, tão sonhada pela grande maioria dos brasileiros.

*Emanuelle Demori Bardeja é engenheira de segurança e arquiteta e, atualmente, é gerente da unidade Yticon Maringá, construtora do Grupo A.Yoshii.

COMENTE ABAIXO:
Leia Também:  COP-26, mais uma Conferência do Clima!
Propaganda

Artigos

Antes da chegada dos portugueses, como viviam os indígenas?

Publicados

em

Autor: Víktor Waewell*

Nem sempre é fácil lembrar que o território brasileiro foi dominado por indígenas. Não temos a facilidade de ver grandes monumentos, como no México ou Egito, nem construções espanholas erguidas sobre fundações incas, como no Peru. Talvez por isso existam no nosso imaginário noções tão equivocadas sobre os nativos do Brasil.

Possivelmente, a mais grave seja achar que todos os povos tinham costumes parecidos. Seria como dizer que italianos e noruegueses, por serem europeus, têm a mesma cultura. Há similaridades entre estes, sendo, por exemplo, ambos povos de tradição cristã, mas diferem em língua, culinária, temperamento e muito mais. Com os indígenas brasileiros, é mais ou menos isso.

Estamos falando de centenas de línguas, milhares de deuses e rituais, alguns específicos de uma região. Ainda assim, o topo do panteão, no geral, era de Monan, o deus criador, que deixou o mundo sob a guarda de Tupã, um deus do trovão. De toda forma, os nativos não cultuavam seus deuses, mas os ancestrais.

Dos deuses e dos heróis do passado, ouviam histórias em volta da fogueira, um emaranhado riquíssimo de narrativas com ares mitológicos. Imagine algo como a mitologia grega, também desenvolvida antes da escrita. Uma pena que, no caso da cultura dos nativos brasileiros, não foi registrada, como Homero fez na Grécia, então sobraram retalhos para imaginarmos com pesar o que se perdeu.

Andando pelas trilhas, logo se perceberia mudarem também as receitas culinárias, com ingredientes cuja variedade de norte a sul até hoje nos surpreende. Além dos caules, folhas, raízes e frutas, uma infinidade de carnes de caça e de pesca, entre macacos, aves, peixes, tartarugas, jacarés, capivaras, formiga tanajura e por aí vai.

Outro equívoco comum sobre os nativos é a ideia de uma ocupação esparsa. Ora, só na cidade do Rio de Janeiro, região de mata exuberante, os relatos falam em centenas de aldeias, cada uma com 400 a 4 mil pessoas. Desdobrando para o continente, seriam facilmente dez milhões de indígenas. Para se ter uma ideia, a capital do império Asteca, Tenochtitlán, pode ter chegado a 300 mil habitantes, uma das maiores cidades do mundo na época, superior a Lisboa, Paris e Madrid juntas.

No Brasil, não havia cidades tão grandes. Mas a ocupação era densa. Do alto de um morro em praticamente qualquer ponto perto do litoral, que tendia a ter maior densidade populacional, seria possível avistar várias aldeias no entorno, as suas malocas se sobressaindo no arvoredo, clareiras das praças centrais e das plantações, com ondulações pela mata mostrando o caminho dos rios e das trilhas. Algumas aldeias seriam aliadas entre si, habitadas por parentes mútuos. Mais comum era que fossem inimigas. Pois, enquanto as mulheres cuidavam das plantações e dos bebês, era da guerra que os homens se ocupavam. Como é o padrão histórico humano, o poder tendia ao patriarcado.

Aquele era um mundo complexo, divertido, dançado, de uma abundância que favorecia o ócio, mas com risco constante de ser capturado numa emboscada e acabar comido num ritual inimigo. As pessoas acreditavam que, comendo um guerreiro corajoso, pegariam um pouco daquela coragem. Por outro lado, nesse sentido, ser comido significava a própria coragem reconhecida pelo inimigo, portanto, uma honra. Entre os tupinambás, havia o ditado: “a tumba mais honrada é o estômago dos inimigos”.

Este fato, de comerem pessoas, até hoje é usado para detratá-los. Mas é bom ter em mente que, atualmente, os indígenas já não comem inimigos, assim como os portugueses abandonaram o costume de queimar bruxas, como era comum na mesma época. Muito do que somos hoje, a culinária, a higiene, uma profusão de chás medicinais, a relação com o quintal, muitas palavras na língua, a nossa característica étnica, tudo isso é herança de um riquíssimo caldeirão americano.

Neste Dia Nacional dos Povos Indígenas (19/04), deixo aqui a minha homenagem. Com coração radiante, dou um viva aos povos originários.

*Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.

COMENTE ABAIXO:
Leia Também:  REPÚBLICA, IGREJA E A CONSCIÊNCIA NEGRA
Continue lendo

MAIS LIDAS DA SEMANA