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Qualidade de vida na menopausa

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Autora: Giovana Fortunato*

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, em 2030, cerca de 1,2 bilhões de mulheres terão mais de 50 anos, número três vezes maior do que em 1990. Por conta disso, o acesso às informações referentes à menopausa e suas consequências é de extrema importância, já que, devido ao aumento da expectativa de vida, a maioria das mulheres deverá viver um terço de suas vidas em estado de deficiência estrogênica, ou seja, em período pós-menopausa.

Com o aumento da longevidade, há cada vez mais mulheres que vivem o climatério e, consequentemente, a demanda por estratégias que visam a melhorar a qualidade de vida nesse período da vida.

O climatério se caracteriza pelo surgimento de eventos fisiológicos que se manifestam em decorrência da diminuição da função ovariana 3 e os sintomas podem ser classificados como de curto e longo prazo.

Cada mulher pode viver esse período de maneira diferente, pois fatores culturais, biológicos e psicossociais também podem influenciar a ocorrência de manifestações clínicas. Nesse sentido, busca‐se compreender se a qualidade de vida da mulher no climatério está associada a esses múltiplos fatores e ao processo de envelhecimento, evidenciado pela maior presença de doenças crônicas e, consequentemente, maior uso de medicamentos nessa população.

Um dos sintomas mais frequentes da menopausa são os fogachos, caracterizados por ondas de calor intensas que levam a uma sensação repentina de aumento da temperatura corporal. Em resposta, o organismo tenta resfriar-se, desencadeando sudorese e desconforto. Esses episódios costumam ocorrer, principalmente, à noite, interferindo na qualidade do sono ao provocar despertares frequentes e dificultar o retorno ao descanso. A privação de sono, por sua vez, pode resultar em irritabilidade, fadiga e dificuldades de concentração, impactando diretamente a qualidade de vida da mulher.

O primeiro passo para definir o tratamento mais adequado para os sintomas da menopausa, especialmente os fogachos, é procurar um ginecologista. Juntos, médico e paciente podem avaliar as diferentes opções disponíveis, levando em consideração os benefícios e possíveis contra indicações, principalmente no caso da terapia de reposição hormonal, ou com medicamentos não hormonais.

Com a redução dos níveis de estrogênio, hormônio essencial para o controle da ovulação, há um aumento de substâncias inflamatórias no corpo, uma redução da sensibilidade à insulina e diversas alterações metabólicas. Essas transformações não apenas contribuem para o surgimento de sintomas incômodos, mas também elevam o risco de doenças cardiovasculares, tornando essencial o acompanhamento médico adequado nesse período. Uma alimentação equilibrada desempenha um papel fundamental na minimização dos sintomas da menopausa e na promoção da qualidade de vida durante essa fase.

Uma dieta rica em nutrientes pode ajudar a controlar as oscilações hormonais, reduzir processos inflamatórios e prevenir doenças associadas ao climatério, como osteoporose e problemas cardiovasculares.

A inclusão de proteínas magras, como ovos, frango, peixes e leguminosas, auxilia na manutenção da massa muscular, que tende a diminuir com a queda do estrogênio. O equilíbrio no consumo de carboidratos complexos e fibras, presentes em grãos integrais, frutas e vegetais, também é essencial para evitar picos de glicose e melhorar a sensibilidade à insulina, reduzindo o risco de diabetes tipo 2.

Além da alimentação, manter um estilo de vida saudável é essencial para atravessar a menopausa com mais equilíbrio. A prática regular de exercícios físicos, como caminhadas, musculação e yoga, ajuda no controle do peso, fortalece os ossos e melhora o humor. Da mesma forma, uma boa qualidade do sono e a gestão do estresse são fundamentais para amenizar sintomas como irritabilidade e ondas de calor. Ao adotar hábitos saudáveis e buscar acompanhamento médico, as mulheres podem vivenciar essa fase de maneira mais leve, garantindo bem-estar, vitalidade e saúde a longo prazo.

Os tratamentos hormonais quando devidamente indicado e individualizado para cada paciente, mais comuns envolvem o uso de estrógenos e progesteronas, em alguns casos a testosterona que podem ser administrados isoladamente ou em combinação.

As formas de aplicação variam de acordo com a necessidade de cada paciente e incluem comprimidos orais, cremes vaginais, adesivos transdérmicos, géis de aplicação cutânea, e dispositivos intrauterinos. Cada método possui características específicas, e a escolha deve considerar tanto o histórico de saúde da mulher quanto suas preferências individuais, sendo discutido com profissional médico.

Algumas dicas para melhorar a qualidade de vida durante o climatério:

. Praticar atividades físicas, para prevenir o ganho de peso típico da menopausa;
* Iniciar um programa de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, para prevenir problemas como a incontinência urinária;
* Realizar exercícios de levantamento de peso, para manter os ossos fortes e reduzir o risco de fraturas;
* Praticar exercícios de memória, palavras-cruzadas e outros tipos de jogos de raciocínio, a fim de diminuir o risco de perda de memória;
* Limitar o consumo de alimentos industrializados e seguir uma dieta rica em verduras, gorduras saudáveis e nutrientes como cálcio e vitamina D, para manter a saúde da pele e cabelo e prevenir doenças como a osteoporose;
* Desenvolver e manter bons hábitos de sono, para combater potenciais problemas do tipo, bem como evitar confusão mental e baixa libido;
. Discuta com o médico os prós e contras do uso da terapia de reposição hormonal. Ela não é recomendada para mulheres em situação de risco para câncer de mama, trombose ou doença cardíaca;

A menopausa é uma fase natural e inevitável da vida, mas com os cuidados e ajustes adequados, é possível manter uma qualidade de vida elevada e estar desfrutando da longevidade.

*Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).

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O Dia das Mães: A luta por igualdade no trabalho!

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Autora: Jacqueline Cândido de Souza*

Em meio a homenagens e celebrações, o Dia das Mães nos convida a um olhar mais profundo sobre a realidade da mulher no mercado de trabalho. Afinal, a maternidade, essa experiência transformadora, frequentemente se torna um divisor de águas carregado de desigualdades persistentes que ecoam por toda a trajetória feminina.

Não falamos apenas de licença-maternidade ou acesso a creches — direitos importantes que, embora representem avanços, ainda são paliativos em um sistema que estruturalmente desfavorece a ascensão feminina. Falamos da sutil (e nem tão sutil) desvalorização salarial que acompanha as mulheres ao longo de suas carreiras, da baixa representatividade em cargos de liderança onde suas vozes e perspectivas são cruciais, e do peso desproporcional das responsabilidades familiares, que culturalmente ainda recai sobre os ombros femininos, limitando seu desenvolvimento profissional.

Essas desigualdades não são narrativas abstratas. Os números escancaram essa realidade: segundo o IBGE, mães com filhos de até três anos recebem, em média, apenas 57,8% do rendimento dos homens na mesma situação. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou um dado alarmante: quase 50% das mulheres são demitidas até dois anos após retornarem da licença-maternidade. E mesmo quando permanecem empregadas, muitas enfrentam estagnação em suas carreiras ou são deslocadas para funções de menor responsabilidade. Além disso, de acordo com o Instituto Ethos, apenas 13,6% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do Brasil são ocupados por mulheres — e esse número é ainda menor quando se trata de mulheres com filhos pequenos.

A busca por igualdade na jornada de trabalho não é uma pauta exclusiva das mães; é uma luta coletiva de todas as mulheres que almejam um espaço justo e equitativo no mercado. Contudo, o Dia das Mães escancara a urgência dessa pauta, revelando como a maternidade pode acentuar desigualdades já existentes. Quantas mulheres talentosas veem suas carreiras estagnadas, seus potenciais subutilizados, simplesmente por serem mulheres – e, tantas vezes, por ousarem ser mães?

O Direito, embora avance com legislações que visam proteger a maternidade e coibir a discriminação, ainda patina diante de práticas enraizadas, vieses inconscientes e culturas organizacionais que nem sempre acolhem as particularidades da jornada feminina. É preciso mais do que leis no papel: urge uma mudança cultural profunda nas empresas e em toda a sociedade, desconstruindo estereótipos e promovendo uma mentalidade de equidade genuína.

Que esta data não seja marcada apenas por flores, presentes ou almoços especiais. Que ela seja um catalisador de reflexão e, principalmente, de ação. Que a celebração da vida e do amor materno nos inspire a construir um mercado de trabalho mais justo, igualitário e verdadeiramente inclusivo para todas as mulheres, em todas as fases de suas vidas e carreiras.

A igualdade não é um favor: é um direito humano fundamental. E sua plena conquista talvez seja o presente mais valioso que podemos oferecer às mulheres — e, por consequência, a toda a sociedade.

*Jacqueline Cândido de Souza é advogada e servidora pública dedicada, engajada na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da igualdade de gênero.

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