Quinta-Feira, 20 de Novembro de 2025
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CONFUSÃO E CONTRADIÇÕES IDEOLÓGICAS

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Autor: Juacy da Silva*

Para se tornar possível o desenvolvimento duma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum. Mas hoje, infelizmente, muitas vezes a política assume formas que dificultam o caminho para um mundo diferente“.

Papa Francisco, Capítulo V, A POLÍTICA MELHOR, 154, Encíclica Fratelli Tutti, 03/10/2020). Em minha opinião esta mesma ideia também se aplica, perfeitamente, `as comunidades locais/municipais, regionais/estaduais e nacionais.

Podemos reclamar dos nossos políticos, mas nunca devemos esquecer que fomos nós que os colocamos lá“. Autor desconhecido.

“Quando a política servir ao povo e não aos interesses de algumas classes ou grupos econômicos, sociais e religiosos, ela se tornará a salvação do mundo. Autor desconhecido.

`A medida que nos aproximamos de uma nova eleição, que a cada dois anos, convoca a população para eleger “seus” representantes nos Poderes Legislativo e Executivo, no caso das próximas eleições municipais em outubro de 2024, estaremos elegendo vereadores/vereadoras, prefeitos/prefeitas de 5.568 municípios e nada menos do que 58.208 integrantes das Câmaras Municipais.

Sabemos que as eleições municipais acabam contribuindo para uma “nova” configuração política e eleitoral que é fator fundamental para as eleições gerais, para deputados estaduais, distritais (caso do Distrito Federal), deputados federais, senadores, governadores e presidente da república dois anos depois (2026) já que no Brasil não existe coincidência de mandatos entre prefeitos e vereadores e os demais cargos preenchidos nas eleições gerais.

A coincidência de mandatos seria um ótimo mecanismo para evitar que políticos façam das eleições municipais apenas um trampolim para as eleições gerais, frustrando os eleitores quando assim agem de forma de carreirismo personalista, além de possibilitar uma melhor articulação do planejamento nacional, estadual e municipal e a definição de políticas públicas, programas e projetos de interesse da população, maximizando os recursos escassos, inclusive orçamentários, quando corretamente aplicados, com eficiência, eficácia, efetividade, transparência e ética.

As próximas eleições municipais servirão como um termômetro para o que poderão ser as eleições gerais de 2026, quando os extremos políticos (direita x esquerda) estarão novamente em confronto, razão pela qual, mais do que nunca é importante que os eleitores, principalmente os pobres e excluídos, escolham tanto no âmbito municipal quanto em 2026 no âmbito estadual e nacional, candidatos que realmente possam representar e defender os direitos e aspirações da grande maioria do povo brasileiro e não interesses menores.

Só assim, os grandes problemas e desafios municipais, estaduais e nacionais poderão ser enfrentados e equacionados e não escamoteados através de assistencialismo, compadresco, tapinhas nas costas, promessas que jamais serão cumpridas por serem desde o início falsas e demagógicas.

Alguém pode imaginar que um grande industrial, um grande empresário que só pensa em aumentar seus lucros, seu patrimônio, seus privilégios (subsídios, “incentivos fiscais”, isenções de impostos, sonegação consentida) ao ser eleito para algum cargo da estrutura do poder vai defender o trabalhador, o pobre e excluído?

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Alguém pode imaginar que um grande latifundiário ou barão do Agro, integrante da bancada ruralista no Congresso Nacional vai defender o trabalhador rural, a reforma agrária, os quilombolas, os povos indígenas, melhores condições de vida para a população pobre das periferias urbanas, que tem crescido desordenadamente fruto das migrações rurais e ausência dos poderes públicos?

Alguém pode imaginar que donos de hospitais ou de planos de saúde vão lutar pelo fortalecimento do SUS e pelos direitos da população a uma saúde pública de qualidade e universal?

Alguém pode imaginar que um político que seja aliado ou participe de atividades de garimpo ou mineração, ou de grupos que desmatam ilegalmente, em estando nos poderes legislativo ou executivo vai se preocupar com a degradação ambiental, com a destruição da natureza e com a ecologia integral ou vai querer “deixar a boiada passar”?

Alguém pode imaginar que banqueiros ou seus representantes em cargos de poder no Executivo ou Legislativo vão defender taxas de juros compatíveis com o mercado internacional em lugar desta agiotagem institucionalizada praticando as maiores taxas de juros já vistas na história em qualquer parte do mundo, como as que incidem sobre empréstimos pessoais ou em cartões de crédito, em mais de 300% ou 400% ao ano, causa do endividamento de mais de 70 milhões de pessoas em nosso país?

Da mesma forma que é difícil e complicado entender como pessoas conservadoras, que defendem o “Deus mercado”, propugna por um “Estado mínimo”, deixando que as tais forças do mercado resolvam todos os problemas que os países enfrentam, principalmente problemas sociais como concentração de renda, riqueza,propriedades e oportunidades nas mãos de uma minoria insignificante da sociedade, imaginam que ser pobre é um castigo das divindades ou falta de vergonha, não querer trabalhar, que a degradação ambiental, que o aquecimento global, a destruição dos ecossistemas, o desmatamento, as queimadas são coisas de comunista e de quem é contra o desenvolvimento do país e, mesmo assim, as vezes acabam se filiando, militando em partidos de esquerda, que defendem o meio ambiente, a agro ecologia, a reforma agrária, o socialismo ou até mesmo o comunismo, como no caso de Mato Grosso em que diversos políticos e pessoas influentes, com pensamento conservador, de direita estiveram ou continuam filiados a tais partidos de esquerda?

Também, é difícil entender por que pessoas pobres, miseráveis ou apenas remediadas, que ganham baixos salários, ou estão desempregadas ou subempregadas são contra a tributação dos super ricos, pessoas e grupos econômicos que tem renda mensal de milhões ou bilhões de reais; que votam a favor de acabar com os direitos dos trabalhadores, que votam leis que exigem que os trabalhadores ralem ate 40 ou mais anos de serviço, enquanto eles (os políticos, os marajás da República e os donos do poder), podem se aposentar com 4 anos ou menos de “trabalho” e podem acumular 4 ou 5 aposentadorias, engordando suas rendas em mais de cem mil reais por mes, repito, é difícil, complicadíssimo entender como esses pobres, que são milhões votam e elegem políticos conservadores que, nas Câmaras Municipais, nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional ou nas prefeituras, governos estaduais, ministérios ou presidência da República, ao serem eleitos voltam as costas para os interesses e as necessidades do povão.

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Neste aspecto em termos de contradição política e ideológica, temos um exemplo em Mato Grosso, quando os PCdoB apoiou um candidato a senador que acabou sendo eleito e hoje é bolsonarista de carteirinha. Imagino como os “camaradas” militantes de esquerda devem se sentir ao perceberem que com seu voto elegeram um representante ultra conservador, da direita, hoje filiado a um Partido de extrema direita.

Outro exemplo, mas que se insere no que podemos chamar de oportunismo político, é a posição dos partidos conservadores (direita), o chamado Centrão, que desde 2003 ‘perambulam” pelo espectro ideológico. Apoiaram os governos do PT (dois governos de Lula e um e meio de Dilma), depois bandearam-se para o Governo Temer (direita) e, sem seguida, transformaram-se em bolsonaristas de carteirinha (extrema direita) e, agora, novamente fazem parte da bancada de apoio do terceiro governo Lula (originariamente PT, demais partidos de esquerda e um ou outro de ‘centro/direita”).

Este é o grande nó da política brasileira, principalmente quando a mesma está entrelaçada com religião, esportes, com fanatismo, com alienação, com assistencialismo e manipulação da pobreza, dos pobres e dos excluídos.

Por isso, entendemos que todas as mudanças só ocorrem quando a população, principalmente os pobres e excluídos que representam muito mais da metade da população e, em alguns momentos, praticamente dois terços da população despertarem a consciência e deixarem de ser analfabetos políticos (alienados), na concepção de Bertold Brecht, cuja reflexão compartilho neste pequeno texto.

O analfabeto político

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo. Berthold Brecht, 1931. Fonte: Tribunal Regional da Bahia (prestes a completar 100 anos, este texto ainda é super atual).

Vamos refletir um pouco mais, de forma crítica e profunda sobre a realidade brasileira e o nosso Sistema político-eleitoral, os partidos políticos, suas “doutrinas”, suas ideologias e seus programas e, escrutinar com uma lupa a vida e as ações da chamada classe política. Só assim poderemos separar o “joio” do “trigo” e voltarmos a acreditar na política e em nossos governantes!

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral.

Email profjuacy@yahoo.com.br

Instagram @profjuacy

WhatsApp 55 65 9 9272 0052

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Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem

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em

Autor: Nailton Reis*

Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.

Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.

É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.

Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.

Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.

  1. – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
  2. – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
  3. – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.

Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:

Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?

Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.

Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.

Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.

No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.

O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.

Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.

A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.

Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.

A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.

O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.

*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767

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