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NR-1 e saúde mental: O desafio de equilibrar trabalho e bem–estar

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Autora: Manayra Lemes Rosa*

A recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho, representou um avanço significativo ao reconhecer, de forma objetiva, a importância da saúde mental no ambiente de trabalho. Ao incluir os riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), sinaliza que fatores como assédio, sobrecarga, isolamento e insegurança emocional não são questões secundárias e sim riscos reais à integridade dos trabalhadores.

No entanto, para que essa medida produza efeitos concretos e equitativos, é essencial que o debate incorpore uma lente de gênero. Mulheres enfrentam, historicamente, condições laborais marcadas por desigualdades: jornadas duplas e/ou triplas, disparidades salariais, sub-representação em cargos de liderança e maior exposição a violências simbólicas e assédios diversos. E não, isso não se resolve apenas com “palestrinha” em datas comemorativas!

Todos esses elementos destacados intensificam os riscos psicossociais enfrentados por elas e tornam urgente a necessidade de que a aplicação da NR-1 considere suas especificidades. Sem esse recorte, corre-se o risco de reforçar invisibilidades e perpetuar estruturas de sofrimento no ambiente de trabalho. No Dia Nacional da Saúde da Mulher, 28 de maio, precisamos reconhecer que o adoecimento feminino advém de um contexto sociocultural que precisa ser revisto e transformado a partir de ações concretas.

O levantamento da plataforma De Mãe em Mãe, da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), realizado em 2024, reforça o que cotidianamente já sabemos: 66% das mães entrevistadas [de um universo de 872 mulheres de todos país] classificaram a própria saúde mental como péssima, ruim ou regular; e apenas 34% consideram boa ou ótima. O sentimento de sobrecarga foi relatado por 97% das entrevistadas, enquanto o de esgotamento por 94% delas.

Segundo dados da PNAD Contínua (IBGE) de 2022, as mulheres dedicam quase o dobro de tempo que os homens aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, consumindo 21,3 horas semanais delas, contra 11,7 horas deles. Esse dado, quando confrontado com os níveis de afastamento do trabalho por questões de saúde mental, revela uma intersecção clara entre gênero, trabalho e adoecimento.

Reconhecer que a jornada de trabalho feminina é diferente da masculina é um bom começo. Na maioria das vezes, a mulher já chega ao ambiente de trabalho com três horas de trabalho em casa: já deu comida para filho, para o pet, levou criança na escola, já arrumou a casa. Além disso, mães trabalhadoras lidam com pressões específicas, como o mito da perfeição, a exigência por desempenho profissional ininterrupto (mesmo durante a maternidade) e a ausência de redes de apoio.

Com as novas regras NR-1, as organizações têm a oportunidade de incorporar ações que busquem melhorar a saúde mental dos seus funcionários. Por onde começar? Pelo diagnóstico. É fundamental compreender quais são os riscos inerentes ao seu negócio, que variam de empresa para empresa, setor para setor, para poder criar programas a partir desse “mapa”.

Durante a implementação, que é muito mais como uma jornada, porque requer tempo e monitoramento em longo prazo, é fundamental entender a importância do autocuidado, que não é luxo, nem egoísmo, e sim necessidade, porque envolve os pilares do bem-estar estar, que são alimentação e sono de qualidade, lazer, psicoterapia, estabelecer limites e hobbies.

Enfim, promover saúde mental no trabalho exige escuta ativa, compromisso institucional e políticas contínuas que enfrentam, de fato, os riscos psicossociais, especialmente aqueles que impactam mais as mulheres. Tem uma música do Arnaldo Antunes (Titãs) que eu gosto muito e diz assim: A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida. A gente quer saída para qualquer parte (…)“.

A boa notícia é que há caminhos possíveis e profissionais preparados para conduzi-los nesse processo de transformação que a sua empresa precisa. Não adianta continuar adiando o inevitável. Vamos juntos?

*Manayra Lemes Rosa, psicóloga clínica, implementadora da NR-1 em empresas e organizações.

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Corrupção, o pior dos males governamentais

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Autor: Ives Gandra da Silva Martins*

Os governos do PT na Presidência da República, incluindo os três mandatos de Lula, não têm se notabilizado pela luta contra a corrupção, nem pela segurança pública.

Nós tivemos o Mensalão, que foi condenado pelo Ministro Carlos Ayres Britto, quando ainda era presidente do Supremo Tribunal Federal. Ocorreu também o Petrolão, no governo da presidente Dilma, que o Ministro Joaquim Barbosa igualmente condenou. Além disso, houve a Lava Jato que, apesar das confissões dos corruptos e corruptores, teve seus atos perdoados pelo Supremo, embora saibamos que o crime de corrupção se configurou.

Recentemente, os jornais noticiaram que o ex-presidente do INSS (nomeado em 2023, no terceiro mandato do governo Lula) também foi preso por desvios de dinheiro que, evidentemente, prejudicam quem necessita dos recursos, visto que se trata de uma classe menos favorecida.

A corrupção é o pior que pode existir num país. Foi este o princípio que sempre procurei ensinar nas aulas que ministrei para futuros advogados, juízes e magistrados, bem como nos concursos dos quais participei, examinando candidatos.

Governos corruptos fazem com que o povo não confie no Estado e no Poder Público. E, o que é pior, sinalizam que o próprio povo também pode ser corrupto para sobreviver. Dessa forma, reitero minha convicção, que venho defendendo ao longo de toda a minha vida: a corrupção é o pior mal que pode existir dentro de um governo e deve ser combatida com toda a força.

A reincidência de grandes escândalos de corrupção, transversal a diferentes gestões e poderes, impõe um questionamento crucial sobre a efetividade e a independência das instituições de controle no Brasil. O ciclo de descoberta de desvios (como o Mensalão, Petrolão e a Lava Jato), seguido pela anulação de atos judiciais ou a revogação de condenações, sinaliza uma fragilidade sistêmica que transcende o embate político-partidário. Este padrão não apenas compromete a confiança pública na administração estatal, mas também corrói a própria segurança jurídica, essencial para o desenvolvimento econômico e social.

Ao permitir que grandes casos de corrupção prescrevam ou sejam revisados por questões formais, sem a devida responsabilização, o Estado envia uma mensagem perigosa de impunidade estrutural, que desestimula o serviço público ético e perpetua a cultura de desvio em vez da moralidade intrínseca que se espera.

A única forma de se poder, realmente, avançar é não ter corrupção no país. Quando corruptos e corruptores confessam e são perdoados, ou quando vemos que em todos os mandatos (Lula 1, Lula 2, Dilma 1, Dilma 2 e Lula 3) houve processos em que a corrupção aparece, isso é muito ruim para o país. E o apelo que sempre faço àqueles que estão no poder é que lutem para combater esse mal.

Não é justo que as pessoas que necessitam de recursos sejam lesadas para beneficiar poderosos que estão no governo. Neste sentido, os principais jornais do país têm noticiado e criticado em seus editoriais o que aconteceu no INSS.

Desvios em órgãos como o INSS, que visam o benefício de indivíduos poderosos, ilustram de forma dolorosa como a busca por lucro ilícito por parte de agentes estatais detrai recursos essenciais que deveriam mitigar a pobreza e a desigualdade. Este crime contra o patrimônio público configura um grave atentado à dignidade humana e ao princípio constitucional da solidariedade social. A cada centavo desviado de fundos previdenciários, de saúde ou educação, aumenta-se a distância entre o que o Estado promete e o que ele entrega, transformando a corrupção em uma das principais barreiras à construção de uma sociedade mais justa e equitativa e consolida as estruturas de exclusão e miséria no país.

Entendo, pois, que aquele que deseja seguir a carreira pública — seja como burocrata, servidor ou político — em primeiro lugar, deve ter plena consciência do princípio da moralidade que, dentre os cinco princípios fundamentais do artigo 37 da Constituição Federal é, a meu ver, o mais importante.

Não se trata de uma moralidade apenas formal, que se limita a cumprir a lei, mas sim de uma moralidade intrínseca, um sacerdócio de servir ao povo, de procurar realmente, por ter escolhido o serviço público, servir ao público e não servir-se dele.

Esta é a tecla que bati a vida inteira e continuarei afirmando: são 67 anos dedicados à advocacia e 61 como professor universitário. Embora me sinta muito perto de Deus me chamar, continuarei a dizer, enquanto Ele me permitir e eu ainda possa expressar algo: a corrupção é o pior mal que pode existir dentro de um governo e deve ser combatida com toda a força.

Neste sentido, tenho a esperança de que Deus tenha comigo a condescendência de me fazer como as árvores, que morrem em pé, pois desejo trabalhar e dizer o que penso, como cidadão, até o último dia da minha vida.

*Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Region al Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).

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