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Julio Gavinho: – Carlos Drummond, Game of Thrones e o futuro do setor de Viagens e Turismo

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Carlos Drummond, Game of Thrones e o futuro do setor de Viagens e Turismo

Por: Julio Gavinho –

O resultado da eleição presidencial inaugurou uma nova era no Brasil. Não vou discutir se é de vanguarda ou retaguarda, se é de modernismo ou de “atrasismo“, se é de democracia ou da falta dela. Este papel não e meu… meu papel é de cutucar você e de provocar uma reflexão. Parece-me as vezes que outros colegas jornalistas esqueceram disso, assumindo o claro papel de jornaleiros.

Bem, vamos lá. Ando ligando o atual momento do país com o histórico poema BergamanianoE agora, José?”do aclamado mineiro Carlos Drummond de Andrade. Estas linhas, cunhadas em meio a segunda guerra e o turbilhão do Estado Novo, versam sobre a inquietude e a incerteza sobre o próprio futuro. Não fica mais existencial que isso.

As belas linhas de CDA podem ser claramente traduzidas através dos tempos na realidade a ser enfrentada pelo Partido dos Trabalhadores a partir de agora. Sem as mãos na máquina pública, o PT verá seu séquito de militantes falir, assim como as próprias reservas “internacionais” do partido serem gastas para sustentar seus caciques e os processos vindouros. E agora, Jose?

O setor de viagens & turismo, incluindo ai a hotelaria e entretenimento, também vive seu momento CDA. “Sozinho no escuro/qual bicho-do-mato/sem teogonia/sem parede nua/para se encostar/sem cavalo preto/que fuja a galope,/você marcha, José!/José, para onde?”. Estamos ai, sem ajuda de Deus, sem para quem reclamar, sem apoio político, e sem ter como fugir da situação que nos encontramos. Estamos ancorados nos nossos seis milhões de turistas desde o paleozóico e, sem articulação política, continuaremos sem cavalo preto que fuja a galope. Eu não acredito mais em um ministério do turismo exclusivo e que tenha verbas para planejar e executar a nossa saída deste buraco em que nos encontramos. Claro que resolvendo os problemas de segurança e de infraestrutura de norte a sul teremos uma avenida de consolidação do nosso país como destino desejado dos países ricos. Mas, vá… isso vai levar uns anos, né? Sobreviveremos ou continuaremos expectadores da derrocada de nossos hotéis e parques temáticos? E agora, José?

Precisamos de promoção e publicidade hoje. Incentivos fiscais hoje. Flexibilização de contratos de trabalho hoje. Credito incentivado hoje.

Enquanto inicia-se em 2 de janeiro uma nova temporada do Game of Thrones (maior seriado da história) da política brasileira, os white walkers continuam vindo, como uma horda de zumbis do gelo, esvaziando os hotéis da Barra da Tijuca, atrasando os papagaios do BNB nos resorts do Nordeste, transformando o HopiHari em um perigo real & imediato aos seus frequentadores e diminuindo rotas de empresas aéreas. E agora, José?

Nesta analogia, roubada de Benioff & Weiss, nós não temos lugar entre os sete reinos (nem entre os sete partidos…) nem força para reivindicar a independência do nosso setor. Acreditando no novo ocupante do Trono de Ferro, não existirão indicações políticas dos tradicionais capitães hereditários da nossa pasta. Segundo Sir Bolso (até que ficou engraçado!), a indicação para o gestor público do turismo deve ser técnica. Entendi. Nós, por acaso, temos um nome de consenso para indicar ou vamos buscar nosso indicado entre os Lannisters de sempre?

Eu sei que política é a arte do possível e agora temos que buscar o impossível entre nós, para podermos, fortes e em grupo, realizar o possível neste novo dia que se anuncia. Esta é a nossa grande oportunidade. A oportunidade de exigir o cumprimento de promessa de campanha e a nomeação de um executivo de estatura que leve o Brasil turístico deste atoleiro de seis milhões de visitantes, para o éden dos destinos desejados.

Com trabalho, recursos suficientes e distância das obrigações político-regionais de sempre, em quatro anos dá para incomodar a concorrência latino-americana e asiática, com todo respeito. Os planos de trabalho e sugestões de estratégia estão aí pois, por longo tempo falamos sobre isso entre nós mesmos. Somos um grupo valioso, um setor promissor que vê agora a chance de reivindicar seu lugar sob o sol que se anuncia.

Deve existir entre nós alguém sem passado sindical/associativo, sem restrições de mercado, nem cheque devolvido ou esqueleto no armário, ora bolas. Somos bem formados e todos com uns sucessos importantes no currículo. Se eu pudesse sugerir alguém, minhas fichas douradas teriam o nome Francisco Neto escrito nelas. Todos conhecemos a trajetória do Rio Quente Resorts (eu até um pouco melhor que a maioria) e o sucesso meteórico da empresa é fruto de uma grande equipe multidisciplinar, mas a figura do Neto como aglutinador e executor de estratégias é inegável. Não é disso que precisamos? De uma pessoa nossa, de hotel, de agencia, de eventos, de propriedade fracionada e, considerando os fretamentos, de transporte aéreo? Não precisamos de uma pessoa que emancipou município, distribuiu conhecimento e permitiu a sua equipe construir junto com ele talvez a empresa de turismo mais valiosa do Brasil? Eu quero construir um futuro melhor. Quero um setor mais unido em prol das nossas necessidades e não das nossas entidades tão pulverizadas. Precisamos escolher um nome e exigir a nomeação junto com fundos e autonomia para executar um plano consistente e longevo. Se vai ser ministério, autarquia, secretaria executiva ou quintal da dona Nonô, não me interessa. Então ABAV, ABIH, ADIT, Associação de Resorts, BITO, ABEOC, ABRACEFF, ABEAR, ABRESI, ABRASEL, Brasil C&VB, entre outras entidades: E agora, Jose?

Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, fundador da doispontozero Hotéis, criador da marca ZiiHotel, sócio e Diretor da MTD Hospitality

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Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem

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Autor: Nailton Reis*

Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.

Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.

É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.

Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.

Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.

  1. – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
  2. – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
  3. – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.

Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:

Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?

Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.

Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.

Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.

No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.

O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.

Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.

A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.

Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.

A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.

O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.

*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767

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