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Wellen Candido Lopes: – Machismo na Política? Não aceito!

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          Machismo na Política? Não aceito!

Por: Wellen Candido Lopes – 

Varrer a sujeira para debaixo do tapete… Creio que muitos dos leitores já ouviram esta frase popular. Jornais cogitam a todo o momento, qual será o cenário eleitoral para o ano de 2018, em sua composição majoritária. Em meio ás reportagens, farpas e acusações acontecem entre os pré-candidatos todos os dias. Frente ás indagações, dos nomes ao cargo do governo em MT, eis que meu nome é cogitado pela imprensa em um site local. Neste dia, alunos, ex-alunos, ex-clientes da advocacia e familiares, me chamavam pelo celular. Se por um lado recebi manifestações positivas do público externo, “internamente”, vivenciei um episódio da cultura machista, por “três vozes masculinas” do partido REDE. Minha postura sempre foi transparente, sempre apontei os erros e acertos do partido o qual estou colaborando para sua construção em Mato Grosso. A REDE não se intitula ser voz da verdade. Diferente de outros dirigentes partidários, irei cortar da própria carne, sempre que em nosso meio político, viermos a viver, a contradição do discurso que afirmamos ter. Estes embates me fazem refletir o espaço da mulher na política, não servindo apenas como subterfúgio para completar um número de cotas exigido pela legislação eleitoral, mas sua participação de fato e com voz ativa.

Preciso antes abrir um parêntese de um momento pessoal. Por muitos anos me dediquei à vida acadêmica e profissional e fui postergando e deixando de lado o meu desejo maternal. Resolvi engravidar no meio do ano e tudo corria muito bem até que, ao iniciar a primeira semana do sétimo mês de gestação, minha mãe foi acometida por um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e levada ás pressas para a UTI. Comecei a viver um dilema emocional constante, acompanhar minha mãe no hospital diariamente e evitar que um parto prematuro acontecesse com minha filha. Como sou filha única e não tenho com quem dividir tais responsabilidades, afastei-me da vida profissional e dos trabalhos políticos partidários e me reservei em momento pessoal em silêncio.

Pois bem, a aparição de meu nome como possível candidata ao Governo de Mato Grosso, citado em um site local, teve o link postado no grupo interno de filiados da Rede pela, primeira voz masculina a se pronunciar. Um detalhe que chama a atenção é que com o link da matéria, foi feito o recorte do texto onde citava meu nome e minha função dentro do partido, ou seja, “Porta Voz Estadual Feminina do partido REDE”. Leia-se nas entrelinhas: “Ela é mulher!” A segunda voz masculina mais que depressa tratou de ir até o site e tecer o comentário na matéria: “Temos outros nomes!”. Leia-se nas entrelinhas: “Nomes de homens!”. Quando me manifestei sobre o fato que até então não tinha conhecimento (porque meus problemas particulares de saúde estão a tomar a maior parte de meu tempo), a terceira voz masculina tentou me intimidar e me mandou “rosnar”, assim como fazem os animais (cães, cadelas, lobos). “Vá rosnar com os que te obedecem, pois comigo o papo é reto, preto no branco!”. Leia-se nas entrelinhas: “Eu sou o machão, mulher não tem vez!”. Fiquei pensando… (pausa), se trata dessa forma as mulheres em público (tentando afirmar uma masculinidade), imagina como esse sujeito deve tratar as mulheres com quem convive na vida privada.

Se o nome cogitado pela imprensa ao governo fosse o de Renato Santtana, meu esposo e que foi candidato pela REDE nas Eleições de 2016, ou de outra pessoa do sexo masculino, teria alguma reação agressiva? Para uma estudiosa das ciências sociais como eu, é fácil ler o significado dos discursos e dos signos expostos através da semântica. Wittgenstein, filósofo e adepto de Sócrates, descreve a conexão, palavras, linguagem como representação estrutural no mundo. Condutas machistas nos espaços sociais revelam o contexto cultural e social, a semiótica de um signo que remete as manifestações frente ao disparate que temos aos discursos de gênero. Em qualquer espaço social e até político, os homens buscam o protagonismo, as imposições do modo de pensar para as mulheres e como elas devem agir e se pronunciar. Estes embates me fazem refletir o espaço da mulher na política, não servindo apenas como subterfúgio para completar um número de cotas exigido pela justiça eleitoral, mas sua participação de fato e com voz ativa.

No meu caso em particular, sei desenvolver todas as funções domésticas, mas também consegui concluir um curso de doutorado, antes de chegar aos 40 anos. Quem me conhece, sabe que não gosto de discursos de vitimização feminista e também não compactuo com a guerra entre os sexos. Acredito que estou no mesmo nível de qualquer homem e poderei ocupar qualquer espaço social, e não preciso me esconder atrás de um discurso de que “mulher é coitadinha”, porque não é, jamais foi e nunca será! E antes que me acusem de oportunismo ao escrever este texto, não serei candidata a nenhum cargo para as eleições de 2018.

Para finalizar, lembro-me de algumas personalidades políticas estaduais e nacionais que rotineiramente precisavam/e ou precisam se posicionar para ter o respeito de seus pares. Independente de discordar da ideologia partidária, a ex-presidente Dilma Rousseff, sempre foi acusada de ser “marionete” do também ex-presidente Lula, como se a mesma não fosse capaz de pensar ou conduzir um país, simplesmente pelo fato de ser mulher. A senadora Kátia Abreu também soube o que é ser hostilizada quando no ano de 2015 foi chamada de “namoradeira”, fato semelhante foi vivenciado pela Deputada Janaína Riva de MT, ao ser questionada sobre sua vida íntima, além de ser a única mulher a ocupar uma vaga na Assembleia Legislativa, atualmente. A ex-senadora Serys Slhessarenko, única mulher a ocupar o senado em MT, teve sua história política marcada por episódios machistas. A mudança cultural patriarcal, apesar dos avanços, ainda segue em marcha lenta. Em um partido como a REDE, onde mulheres protagonistas como Marina Silva e Heloísa Helena reforçam o discurso de igualdade, não há como admitir que o espaço da mulher seja desrespeitado. Lugar de mulher é na política. Mulheres ocupem a política e denunciem o machismo sempre!

Wellen Candido Lopes – advogada, pedagoga, acadêmica do curso de sociologia, Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais. Atualmente está como Porta Voz da REDE em MT.

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Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem

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Autor: Nailton Reis*

Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.

Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.

É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.

Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.

Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.

  1. – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
  2. – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
  3. – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.

Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:

Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?

Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.

Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.

Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.

No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.

O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.

Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.

A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.

Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.

A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.

O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.

*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767

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