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Por que sua empresa não cresce como deveria

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Autor: Ricardo Pinheiro*

Tenho conversado com dezenas de empresários nos últimos meses, e uma frase se repete com frequência: “Estamos trabalhando muito, mas não saímos do lugar”. A sensação de estar correndo numa esteira é mais comum do que imaginamos. E o problema raramente está na falta de esforço ou dedicação. O problema está em aplicar as estratégias erradas para o momento da empresa.

Não existe solução universal em gestão. O que funciona para uma startup de dois anos não funciona para uma empresa estabelecida de dez. O que resolve o problema de uma organização em expansão acelerada pode sufocar uma que precisa consolidar processos. E é exatamente aí que mora o erro mais caro que um líder pode cometer.

Durante meus 20 anos em multinacionais, vi empresas tomarem decisões que catapultaram os resultados e outras que, apesar de tecnicamente perfeitas, fracassaram. Não porque as decisões fossem ruins em si, mas porque eram inadequadas para aquele estágio específico de maturidade.

A verdade é que muitos líderes não sabem em que estágio sua empresa realmente está. E aqui mora um paradoxo: a solução que tirou você da crise anterior, não raro é exatamente o que está criando a crise atual. O que te salvou ontem te aprisiona hoje. A informalidade que permitiu agilidade no início agora gera caos. A centralização que trouxe ordem agora sufoca iniciativa. Os processos que organizaram a operação agora engessam a inovação. Cada fase de crescimento carrega em si as sementes do próximo problema.

Empresas não crescem de forma linear. Elas alternam entre períodos de evolução tranquila e momentos de ruptura inevitável. Você constrói, consolida e, de repente, percebe que o modelo que funcionava perfeitamente começou a travar. É nesse momento de tensão que a mudança se torna urgente. E a mudança nunca é pequena, ela exige que você questione a própria forma como a empresa opera. O fundador precisa aceitar que não pode mais centralizar tudo. O gestor profissional precisa aprender a delegar de verdade. A equipe autônoma precisa se coordenar sem perder agilidade. Cada transição dói porque exige abandonar o que deu certo.

O que diferencia líderes que navegam essas transições com sucesso daqueles que ficam presos é a capacidade de antecipar. Se você sabe que dar autonomia após um período de controle rígido vai gerar descoordenação, você se prepara. Se você entende que profissionalizar processos irá, eventualmente, criar burocracia excessiva, você já pensa na solução antes do problema explodir. Não se trata de evitar as crises, pois elas são inevitáveis e até necessárias. Trata-se de reconhecê-las como parte natural do crescimento e agir no momento certo, com a solução certa. Isso exige humildade para aceitar que o que te trouxe até aqui não vai te levar para o próximo nível.

Quando você confunde os estágios, as consequências são brutais. A questão central não é apenas identificar o estágio, mas encarar a realidade de onde você está. Novamente, a de olhar para sua empresa com honestidade e admitir que, talvez, você não esteja tão maduro quanto gostaria. Que seus processos são mais frágeis do que aparentam. Que sua equipe depende mais de você do que deveria. Que suas decisões são mais intuitivas do que estratégicas. Que você e sua equipe precisam de novas competências.

Nos últimos dez anos como empreendedor, aprendi que toda empresa atravessa crises previsíveis. A crise dos primeiros clientes. A crise da primeira contratação. A crise do primeiro milhão. A crise da delegação. A crise da profissionalização. Cada uma exige uma resposta diferente, ferramentas diferentes, mindset diferente. Tentar pular etapas é garantia de retrocesso.

O que diferencia empresas que multiplicam valor daquelas que apenas sobrevivem é a capacidade de diagnosticar com precisão seu momento e implementar exatamente o que é necessário. Nada mais, nada menos. Não é sobre copiar o modelo da empresa de sucesso do seu setor. É sobre entender profundamente onde você está e construir a ponte certa para onde quer chegar.

Quanto mais clara sua visão sobre maturidade, mais rápido você cresce, pois para de desperdiçar energia em iniciativas que não fazem sentido para seu momento, para de contratar perfis que sua estrutura ainda não suporta e para de implementar ferramentas que sua cultura não está pronta para absorver.

A pergunta que todo líder deveria fazer é: “quais as capacidades que nossa empresa precisa para chegar ao próximo nível. Essa mudança de perspectiva transforma tudo porque força você a olhar para dentro antes de olhar para fora. A consolidar antes de expandir. A dominar o básico antes de buscar o sofisticado.

E aqui está a virada de chave que alguns líderes não fazem: atingir resultados excelentes não é sobre ter a estratégia ou o plano perfeito, é sobre ter disciplina de execução. Você precisa garantir que existam sistemas de acompanhamento das ações para que elas, de fato, aconteçam. Esses sistemas garantirão ritmo e accoutability (responsabilização).

A ideia central é muito simples: uma empresa com uma estratégia simples e clara (não precisa ser ciência de foguete), e um plano razoavelmente bem estruturado que seja executado com excelência, sempre superará um concorrente cuja estratégia é ultrassofisticada, mas o plano ficou na gaveta, sem ser executado, ou foi mal executado.

No final, gestão eficaz não é sobre fazer mais. É sobre fazer o certo, no momento certo, da forma certa. E isso só acontece quando você tem coragem de enxergar sua empresa como ela realmente é, não como você gostaria que ela fosse. Identifique seu estágio. Implemente as práticas adequadas. Tenha disciplina de execução. O resto é consequência.

*Ricardo Pinheiro, empreendedor, fundador da N8x Educação – Escola de Negócios e da Relevo Tecnologia, empresa da área de Professional Services, tem mais de 20 anos de experiência em multinacionais como Microsoft, IBM e Thomson Reuters.

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Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem

Publicados

em

Autor: Nailton Reis*

Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.

Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.

É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.

Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.

Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.

  1. – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
  2. – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
  3. – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.

Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:

Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?

Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.

Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.

Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.

No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.

O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.

Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.

A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.

Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.

A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.

O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.

*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767

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