Artigo
Da varíola ao mercúrio, a extinção indígena persiste

Autor: Víktor Waewell* –
Os nativos brasileiros perderam a guerra contra os portugueses, principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que vieram nos navios. Fossem infectados de forma proposital ou não, estima-se que 90% deles morreram adoecidos. Os brancos também faleciam por doenças, é claro, mas estes eram fruto de uma longa linhagem de indivíduos resistentes a elas.
É bom lembrar que, àquela altura, os indígenas brasileiros não estavam distribuídos no território de forma aleatória, nem viviam, como hoje, frequentemente, em lugares remotos. Como qualquer ocupação humana, a tendência era a concentração perto da praia e ao longo dos rios. Sendo assim, os lugares com mais gente foram os primeiros aos quais os portugueses chegaram e também onde desataram as primeiras epidemias.
Muitos indígenas que escaparam das guerras, das doenças e da escravização fugiram continente adentro em grupos pequenos ou grandes, gerando movimentos migratórios rumo ao interior. No caminho, às vezes se uniam a indígenas que encontravam, ou guerreavam pelo controle da área.
Só que o furor português, partindo do litoral, não tardava a alcançá-los outra vez, e os nativos tinham que migrar de novo. Em muitas partes, terminaram cercados por fazendas e cidades, e já não havia mais aonde ir. Expulsos das terras mais férteis e com a constante degradação ambiental, a mais recente onda de migração dos indígenas é para as cidades, em busca de meio de sobrevivência.
Assim, em termos bem gerais, a história dos últimos 500 anos, do ponto de vista de boa parte dos povos nativos, costuma ser a da extinção ou a de migrações periódicas. Os indígenas que hoje sobrevivem frequentemente não vivem no território de seus ancestrais e são a conjunção de duas ou mais culturas que em algum momento se encontraram.
Sem a capacidade de revidar militarmente, a resistência passou a ser através dos tribunais, da opinião pública e da proposital manutenção de determinados costumes. Só que, contra um povo enfraquecido e espalhado, os massacres se tornaram cada vez mais sistemáticos.
Temos vários e vários registros de infecção proposital contra povos indígenas para levá-los à extinção. Já em 1574, o governador do Rio de Janeiro mandou trouxas de roupas contaminadas com varíola para os nativos que viviam na atual região da Lagoa Rodrigo de Freitas. Com a aldeia extinta, foi construído ali um grande engenho público para produção de açúcar.
Há o caso de 1818, quando os Timbira foram atraídos para a vila de Caxias, no Maranhão, e lá colocados em convívio com portadores de varíola. A tragédia assolou aldeias num raio de 1800 quilômetros.
Em 1967, os Pataxós, na Baía, viram aviões lançarem brinquedos do céu, parecendo presentes para as crianças, só que eram brinquedos infectados com varíola, sarampo e gripe. As terras esvaziadas teriam sido distribuídas para criminosos do garimpo e da mineração, assim como figurões do governo militar.
No começo de 2023, vimos as fotos das crianças Yanomami, raquíticas, lembrando judeus em campos de concentração. O mais recente fator do genocídio foi a contaminação dos rios por mercúrio, usado no garimpo.
Mesmo com tantos desenlaces, os povos indígenas seguem resistindo contra uma guerra de conquista que nunca foi interrompida. Sem a capacidade de enfrentar belicamente os invasores, o simples direito de existirem permanece em disputa. Após mais de 500 anos da “descoberta”, essa luta está longe de acabar.
*Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.

Artigos
O amor altruísta!

Autora: Kamila Garcia* –
A clareza do pensamento na Antiguidade contrasta com a regressão humana na era contemporânea. Não é por acaso que quem ainda possui inteligência criou a inteligência artificial para conversas longas e produtivas.
Hoje, poucos buscam o conhecimento por amor a ele. Muitos almejam títulos e honrarias sem o esforço, sem o pensamento crítico, e sem explorar plenamente suas capacidades. A bondade e a amizade são tratadas como mera moeda de troca, pois a essência do ser humano contemporâneo muitas vezes se perdeu em prazeres superficiais.
A ética e a moral, outrora bússolas do pensamento científico e espiritual, foram substituídas por forças externas que comprometem o verdadeiro conhecimento e a convivência social, voltada para o bem comum. De que adianta a tecnologia, se a maioria não tem acesso ao básico? De que serve pensar em benfeitorias, se não há interesse em implementá-las de maneira justa e universal?
Outro dia, ouvi um professor dizer que caridade se faz na Igreja, e precisei discordar. Há tempos, nem mesmo templos e igrejas realizam atos de caridade sem buscar notoriedade social. A caridade verdadeira se faz no amor e na união. Poucos estão dispostos a doar tempo, atenção e amabilidade para ouvir, sentir e coexistir como iguais neste mundo. O altruísmo está em dar sem esperar nada em troca. Ainda assim, os altruístas cultivam amor-próprio e não buscam na inteligência artificial o afeto que não receberam.
O altruísta não desconta sua dor no outro nem subverte os valores que norteiam sua vida. Ele ama conscientemente, respeitando seus deveres e direitos como ser social e espiritual. Sua alma é livre, emergindo de qualquer obstáculo que outros tentem impor, sem se deixar aprisionar pelos fracassos alheios.
Não há céu ou inferno para quem compreende a missão de existir e de amar. Há apenas a visão clara da criação: seja no pensamento, seja no redirecionamento da própria vida.
O altruísta mergulha em si mesmo e emerge com todo o seu potencial. Sua alma é infinita. Embora não seja compreendido pela maioria, ele encontra felicidade constante, pois o seu amor é infinitamente radiante.
*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.
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