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Cristhiane Brandão: – Conflitos na família empresária

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                Conflitos na família empresária

Por: Cristhiane Brandão

A emoção e a razão nos negócios familiares são arestas que podem gerar desconforto e confusões, quando a família empresária não tem a visão clara e definida sobre o futuro de seus negócios.

É natural que após anos de trabalho duro, a primeira ou a segunda geração sonhe em ver a sua prole ocupando um papel de destaque no comando das operações, uma decisão tão fácil e sedutora quanto perigosa e arriscada.

Para que isso se torne realidade, uma coisa é certa. Se família e empresa crescem, as chances de sucesso e de conflito aumentam junto. Mas sabia que é possível até mesmo tirar vantagem das divergências?

Uma das soluções encontradas por especialistas para minimizar o impacto dos conflitos é a implantação da gestão por meritocracia. Hoje esta é uma realidade que se consolida e ganha força no mundo empresarial.

A ferramenta vem sendo discutida e utilizada como ponto de equilíbrio, profissionalização e transparência dentro das corporações familiares, além de auxiliar nas situações de escolha sobre a permanência de herdeiros em cargos de diretoria, por mérito e não pelo sobrenome.

O modelo de ascensão é possível e programável dentro de uma série de etapas e protocolos, em que o foco central está na evolução gradual das competências empresariais de cada membro da família. Acima de qualquer interesse ou vaidade, a capacidade de tocar os negócios vem em primeiro lugar.

Para exemplificar, uma situação corriqueira e geradora de problemas é a crença de que a empresa existe para servir à família, quando, é justamente o contrário. Como as relações transcendem poder e dinheiro, estão ligadas a sentimentos, as questões podem ganhar alta carga emocional.

Para lidar com conflitos, especialistas na área apontam que alguns procedimentos devem ser adotados pelas empresas familiares, entre eles, o chamado Conselho da Família ou Familiar é uma solução de grande valia.

Por meio desse conselho, é possível estabelecer um acordo familiar, que consiste em um conjunto de regras e normas sobre como será a relação entre a família, os sócios e a empresa. Cada família deve definir os itens que constarão em seu Acordo Familiar. Ainda assim, há necessidade de implantação de Conselhos de Administração dos Negócios, que podem ter membros da família e membros externos à empresa, como outros empresários e consultores terceirizados.

Esse grupo de pessoas que compõe o Conselho de Administração se reúne periodicamente para a tomada de decisões sobre determinados assuntos, que precisam incluir, por exemplo, a instalação de boas práticas de governança corporativa e da profissionalização de sua administração, que é igualmente fundamental para a adequação da estrutura e a preparação das pessoas que trabalham na empresa. Tudo isso voltado ao foco da longevidade.

É importante destacar que o sucesso da governança corporativa e familiar, bem como os processos de profissionalização da gestão, devem estar amparados e guiados pelo senso de coletividade, ou seja, o que é melhor para a sociedade, para o negócio e para a família. Não para um ou outro.

O que realmente impacta positivamente é o tratamento justo, equilibrado, para que até quem não participa da gestão tenha direito a receber informações, como acesso ao balanço com os resultados. Isso vale para filhos que decidem tocar seu próprio negócio ou seguir outro rumo profissional.

Conduzir ao longo de várias gerações um negócio de sucesso é ter habilidade para mediar e resolver conflitos acima de tudo, a partir do processo de profissionalização contínua e gestão. Hoje, isso ficou mais fácil, pois o conhecimento está disponível e pronto para ser colocado em prática. Depende da decisão de cada um e que certamente vai impactar no sucesso empresarial.

Cristhiane Brandão, administradora pela UFMT, especialista em Dinâmica dos Grupos pela SBDG, 20 anos de experiência em Gestão e Estratégia para empresas familiares e sócia proprietária da Nunes Brandão Consultoria Empresarial & Empresas Familiares, [email protected].

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Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem

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Autor: Nailton Reis*

Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.

Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.

É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.

Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.

Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.

  1. – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
  2. – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
  3. – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.

Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:

Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?

Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.

Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.

Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.

No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.

O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.

Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.

A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.

Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.

A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.

O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.

Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.

*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767

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