Artigos
Allan Kardec Benitez: – Todos contra a MP 841
Todos contra a MP 841
Por: Allan Kardec Benitez –
No último dia 11, o presidente ilegítimo Michel Temer editou a Medida Provisória 841. Ela retira dos esportes R$ 514 milhões, o que vai prejudicar principalmente o financiamento de projetos de base com jovens do país inteiro. É mais um dos equívocos que marcam essa gestão.
Como profissional de Educação Física, cidadão e apaixonado por esportes, não podemos aceitar esse tipo de manobra. Estamos cientes de que os recursos de várias áreas serão retirados da Loteria Federal e remanejados para a área de segurança pública através da unificação de um novo ministério.
A questão é que essa medida é muito insensata. Tenta resolver um problema histórico criando outro é um absurdo. Falar em segurança retirando recursos do esporte é prejudicar milhares de jovens de todas as regiões, é atacar também a saúde, educação e cultura da nossa juventude. É por isso que atletas, artistas e organizações do país inteiro têm se unido contra essa MP num movimento histórico.
O governo deve retirar recursos de outras áreas. Por que não reduzir os cargos comissionados, os gastos com os cartões corporativos? Isso demonstra qual a prioridade dessa turma. É de indignar qualquer um, pois o orçamento do Ministério dos Esportes para este ano de 2018 é o menor dos últimos 14 anos, fora que a pasta já tem restos a pagar na ordem de R$ 2,5 bilhões.
As secretarias estaduais perderão também R$ 189 milhões. Só o Ministério dos Esportes terá a menos R$ 235 milhões, mas essa barbárie atingirá também confederações, o Comitê Olímpico do Brasil, que perderá R$ 9,4 milhões, o Comitê Paralímpico Brasileiro, R$ 5,3 milhões, a Confederação Nacional dos Clubes, R$ 3,2 milhões, e os clubes de futebol, R$ 387 mil.
De acordo com o texto da MP, os estados receberão recursos do fundo a ser gerido pelo Ministério Extraordinário da Segurança Pública, mas não poderão usar em ações sociais ou despesas não relacionadas com segurança. Será basicamente para construir unidades policiais, compras de materiais, tecnologias, sistemas de informação, entre outros.
Qual recado esse governo dá para a juventude ao retirar dinheiro dos esportes para investir em segurança? Que jovens queremos para o nosso futuro? Não podemos acabar com o sonho dessa garotada. Temos que mostrar que um país diferente é possível: um país que valoriza a educação, cultura e os esportes.
Allan Kardec Benitez é profissional de Educação Física, professor da rede estadual de Educação, Especialista em Gestão Educacional, Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea, Doutorando em ECCO/UFMT e deputado Estadual.
Artigos
Do medo reprimido à fuga química, o homem que aprendeu a não temer vive refém da própria coragem
Autor: Nailton Reis* –
Neste artigo propõe um caminho para compreender o que a psicologia chama de “fuga da realidade”. Essa expressão, muitas vezes usada de forma genérica, descreve o movimento em que o sujeito, incapaz de lidar com o próprio mundo interno, seus sentimentos, medos e frustrações, passa a recorrer a comportamentos ou substâncias que o afastam de si mesmo.
Aqui, vamos construir um percurso lógico para entender como essa fuga pode acontecer na vivência masculina, especialmente em contextos de masculinidade tóxica e repressão sexual. Este artigo busca elucidar tais questões para complementar a série de textos disponíveis em @iMentesPlurais, trazendo de maneira clara, acessível e didática as discussões que envolvem a dependência química e seus desdobramentos emocionais.
É importante deixar claro que a dependência química não nasce apenas desse modo, e nem toda pessoa dependente passa pelo mesmo caminho. Mas essa é uma das possibilidades de compreensão: quando o uso de substâncias se torna uma forma de sustentar o papel de “homem de verdade”, aquele que não sente, não chora, não fraqueja.
Esse será, portanto, um olhar sobre o meio masculino como espaço de adoecimento e performance. Vamos examinar como a repressão dos sentimentos primários, a inibição emocional e a busca por aceitação social formam o terreno do uso abusivo, quando o sujeito passa a usar a substância para performar um personagem e não para se expressar.
Desde cedo, o homem é ensinado a não sentir. A ideia de “ser homem” vem carregada de mandamentos invisíveis: não chorar, não demonstrar medo, não hesitar, não fraquejar. E há um mandamento que é o mais perigoso de todos: “homem não pode ter medo”. Esse comando parece pequeno, mas ele vai moldando toda a forma de se relacionar com o afeto e com o risco.
- – Se eu não posso ter medo, então eu não posso dizer que estou com medo.
- – Se eu não posso dizer, eu não posso pedir ajuda.
- – Se eu não posso pedir ajuda, eu vou ter que parecer corajoso o tempo todo, mesmo quando estou apavorado.
Na adolescência, esse falso “não tenho medo” se mistura com o grupo e vira espetáculo. O menino que aprendeu a não demonstrar medo em casa, para não ser chamado de frouxo, agora entra num grupo que pede que ele prove o tempo todo que realmente não tem medo. É aí que aparece aquela cena que muita gente pergunta:
“Mas por que ele não tem medo da polícia? Por que ele encara a morte, o racha, a briga de rua, como se fosse nada?“
Muitas vezes não é que ele não tenha medo, é que ele foi treinado a inibir o medo. O sentimento existe, mas está soterrado. O que aparece é a performance de coragem. E a substância, o álcool principalmente, ajuda a sustentar essa atuação.
Essa é a educação emocional negativa que molda o menino. Ele aprende não o que fazer, mas o que evitar. A mensagem é clara: emoção é fraqueza, medo é coisa de quem não é homem. O resultado é um sujeito que cresce sem vocabulário emocional, sem autorização para expressar o que sente e, por isso, sem saber o que fazer com a própria dor.
Essa repressão dos sentimentos primários, medo, tristeza, afeto, necessidade de cuidado, cria uma espécie de silêncio interno. O menino que engole o choro cresce inibido, retraído, tímido. Não porque nasceu assim, mas porque aprendeu a conter. E essa contenção emocional, ao longo do tempo, não some, ela se acumula. Quando chega a adolescência, ele se depara com o grupo de pares, onde o valor não é a sensibilidade, e sim a ousadia.
No grupo, o que define o “homem” é o quanto ele aguenta, o quanto ele conquista, o quanto ele se impõe. Quem é tímido, quem hesita, quem se mostra vulnerável é ridicularizado. Surge então a fórmula do pertencimento: “se eu não posso ser, eu preciso parecer“. E para parecer, ele recorre àquilo que o ajuda a vestir a roupa da coragem: a substância.
O álcool, especialmente, aparece como o primeiro facilitador. Ele desinibe, solta a voz, reduz a vergonha, mascara a insegurança. Na prática, ele empresta coragem. É ali que a dependência simbólica começa, antes mesmo da química. O sujeito percebe que, sob o efeito da substância, ele é mais engraçado, mais confiante, mais sedutor. Ele descobre uma nova forma de existir, e essa forma vem com o rótulo de “homem de verdade”.
Mas há um preço alto nisso. Quando o homem passa a depender da substância para performar, ele cria uma segunda identidade, uma versão socialmente aceita, mas emocionalmente vazia. Ele bebe para ser. E quanto mais bebe, menos ele é. O “homem de verdade” que ele mostra para o mundo vai, pouco a pouco, substituindo o sujeito que sente, que erra, que precisa de ajuda.
A comunidade masculina, a dos amigos, das festas, das comparações, reforça esse papel. Cada dose é uma prova de masculinidade, cada transa, uma medalha. O problema é que, sem perceber, ele passa a usar não pela substância em si, mas pela validação que ela proporciona. A droga vira um espelho distorcido onde ele se reconhece. E é nesse espelho que o homem perde o próprio reflexo.
Com o tempo, o corpo se adapta e cobra. O prazer químico se impõe sobre o prazer humano, e a dopamina, aquele neurotransmissor que antes sinalizava conquista, afeto, motivação, passa a responder apenas à substância. O corpo reage, mas o sentimento não acompanha. Ele tenta manter o desempenho, o mesmo humor, o mesmo vigor, mas o que antes era natural agora depende de algo externo. É assim que a performance vira prisão. O sujeito não bebe mais para curtir, mas para não desmoronar. Não usa mais para se divertir, mas para continuar sendo o homem que inventaram para ele.
A psicologia compreende essa dinâmica como um tipo de fuga da realidade afetiva. Ao invés de entrar em contato com o que dói, solidão, medo, rejeição, impotência, o homem anestesia. Ele substitui o sentir pelo fazer, o vínculo pelo desempenho, o afeto pelo uso. E assim, o que parecia força revela-se fragilidade disfarçada.
O homem que precisa se drogar para ser homem está sendo homem para os outros, e não para si.
Reconhecer isso é o primeiro passo. O tratamento psicológico não retira a masculinidade, ele a reconstrói. Ensina o sujeito a se reconhecer sem precisar se esconder, a sentir sem medo de parecer fraco, a falar sem precisar se embriagar. O que antes era fuga, vira reencontro. E é nesse ponto que o homem, pela primeira vez, pôde existir sem performance, sem disfarce, com verdade.
*Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico com especialização em Neuropsicologia Cognitiva Comportamental, Avaliação Psicológica e Psicologia do Trânsito em Cuiabá-MT – CRP 18/7767
-
Artigos7 dias atrásA beira de si mesmo!
-
ECONOMIA7 dias atrás“Queremos eliminar qualquer dúvida sobre o destino das Emendas Parlamentares”
-
Artigos6 dias atrásSustentabilidade e legado: o futuro das empresas familiares
-
Política6 dias atrásGisela marca presença na COP30 e reforça protagonismo feminino na agenda do clima
-
Artigos4 dias atrásQuando a violência psicológica abre caminho para o feminicídio
-
Artigos7 dias atrásDopamina, Tadalafila e o Corpo em Colapso: o prazer roubado pela dependência química
-
Artigos7 dias atrásCOP-30 – Quando a justiça climática esquece das pessoas com deficiência
-
ESPORTES6 dias atrásSTJD absolve Bruno Henrique e está liberado para jogar




Você precisa estar logado para postar um comentário Login