Há 130 anos nascia em Cuiabá Francisco de Aquino Corrêa, o Dom Aquino, criador de dois dos maiores símbolos oficiais do Estado: o brasão e o hino de Mato Grosso. Grande incentivador da cultura e da preservação da memória, Dom Aquino, enquanto “presidente” do Estado entre 1918 e 1922, se preocupou em eternizar a história mato-grossense.

Homem de letras, poeta, escritor, como descreve o pesquisador João Carlos Vicente Ferreira, Dom Aquino viu seu poema “Canção Mato-grossense” ser musicado pelo então tenente do Polícia Militar Emílio Heine, que também era maestro da banda da polícia, e entoado pelos mato-grossenses assim como um hino – ainda que não oficializado à época.

A institucionalização só aconteceu em 1983, 64 anos após a primeira apresentação em público da composição, em 1919, durante comemorações do aniversário de Cuiabá. Na década de 80, recorda Ferreira, discutia-se muito sobre a oficialização ou não do poema como hino. Afinal, a divisão do estado era recente e a frase “de Dourados até Corumbá” causava conflito.
 
Na época, conta o pesquisador, foi preciso montar uma comissão para avaliar a utilização do poema e da música como hino. “Quando Dom Aquino escreveu, pensava em Dourados e Corumbá como pontos de resistência da Guerra do Paraguai. Chegou-se à conclusão que deveria ser mantido, pois a letra era uma alusão a um período em que aqueles locais eram importantes para a defesa do solo mato-grossense”.

Tão quanto o poema, o Brasão também é uma aula de história. Instituído logo no primeiro ano da gestão de Dom Aquino Corrêa, por meio da Resolução nº 799, de 14 de agosto de 1918, o símbolo é uma referência à origem do estado, à economia e ao povo mato-grossense. A começar pelo escudo ao estilo português que traz a imagem de um morro, descrito como “morro de ouro”. Segundo o pesquisador, trata-se do morro de Santo Antônio, uma referência geográfica utilizada pelos bandeirantes que viajavam a Mato Grosso.

Ainda no centro está um braço armado, empunhando uma bandeira com a Cruz da Ordem de Cristo, o mesmo desenho presente no brasão da cidade de São Paulo. É outra referência aos bandeirantes e aos portugueses, afirma Ferreira. Ao redor do escudo estão ramos de erva mate e seringueira, que no início do século XX movimentavam a economia de Mato Grosso juntamente com a exploração de ouro, representado pela cor amarela do morro.

Sobre o escudo está a Fênix, uma ave mítica que representa o renascimento, e abaixo dele a frase em latim “Virtute Plusquam Auro”, que significa pela virtude mais que pelo ouro. Juntos, analisa o pesquisador, os dois elementos deixam uma mensagens aos mato-grossenses: “Somos um povo como uma fênix, que vamos vencer sempre. Uma mensagem muito forte, que se completa com a frase em latim”. 
 
O poema Canção Mato-grossense prevalece até os dias de hoje como o Hino do Estado de Mato Grosso e o Brasão foi resgatado pela atual gestão como alternativa ao uso de uma logomarca referente ao governo.