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OPINIÃO

Hugo Fernandes: – A volta da propaganda partidária

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                A volta da propaganda partidária

Autor: Hugo Fernandes

Aprovada pelo Senado Federal na última semana, a proposta que prevê o adiamento das eleições municipais entrou agora na pauta da Câmara dos Deputados. Num primeiro avanço, a proposta definiu os dias 15 de novembro e 29 de novembro em caso de dois turnos. Mas acontece que agora o assunto transita numa outra esfera, onde os parlamentares do chamado “Centrão” cobram o famoso toma-lá-dá-cá do governo federal. Entre as exigências, o retorno da propaganda partidária.

Muito além disso. Em primeiro lugar, o bloco busca a liberação de R$ 5 bilhões dos cofres do Tesouro Nacional aos prefeitos por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Estes estariam cambaleantes em meio a pandemia do novo coronavírus, afetados pela crise na saúde. Mas o que mais chama a atenção é a proposta de ampliação da chamada propaganda partidária. Afinal, numa campanha de prazo muito enxuto, eis que surge a oportunidade para se discutir o processo democrático num sentido amplo.

Se considerarmos que 45 dias são um prazo exíguo para que os candidatos possam apresentar suas plataformas, bandeiras, propostas e ainda cativar o público, com mais 43 dias, isto claro, caso a proposta se confirme na Câmara dos Deputados, proporcionará mais tempo de bola rolando. O marketing digital estará ainda mais presente, em tempo de distanciamento. Lembrando que o prazo pré-eleitoral é o momento mais oportuno para estabelecer suas conexões.

Em que pese um fator fundamental que precisa ser colocado na balança para a justeza do processo eleitoral – no sentido de proporcionar condições equânimes de acesso às plataformas, propostas e projetos -, devemos considerar a proposta do “Centrão” nem de toda ruim. Embora amplie os gastos em aproximadamente R$ 400 milhões ao mês num momento em que os recursos estão sendo canalizados para o enfrentamento da Covid-19, a ampliação da propaganda na TV e no rádio sofre resistências.

Mas, se considerarmos a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ContínuaTecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada em abril deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fica patente a necessidade de revisão nesse sentido. O levantamento revela que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede. Em áreas rurais, o índice é ainda maior; chega a 53,5%.

Em contrapartida, segundo o Ibope, cerca de 97% dos domicílios do País possuem pelo menos um aparelho televisor. São aproximadamente 71 milhões de imóveis residenciais. Há estimativa, todavia, de que mais de 91% dos brasileiros escutem rádio. Portanto, a denominada mídia tradicional segue hegemônica. Quanto mais acesso à informação, mais democrático é o processo. Mas, calma. Não se engane. Está será, sem sombra de dúvidas e de qualquer maneira, a eleição mais digital de todos os tempos. E a reputação será construída ou destruída na velocidade do pensamento, com um simples toque na tela.

Hugo Fernandes é jornalista especialista em Comunicação Estratégica, Assessoria de Imprensa e Marketing Político.

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Artigos

Antes da chegada dos portugueses, como viviam os indígenas?

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Autor: Víktor Waewell*

Nem sempre é fácil lembrar que o território brasileiro foi dominado por indígenas. Não temos a facilidade de ver grandes monumentos, como no México ou Egito, nem construções espanholas erguidas sobre fundações incas, como no Peru. Talvez por isso existam no nosso imaginário noções tão equivocadas sobre os nativos do Brasil.

Possivelmente, a mais grave seja achar que todos os povos tinham costumes parecidos. Seria como dizer que italianos e noruegueses, por serem europeus, têm a mesma cultura. Há similaridades entre estes, sendo, por exemplo, ambos povos de tradição cristã, mas diferem em língua, culinária, temperamento e muito mais. Com os indígenas brasileiros, é mais ou menos isso.

Estamos falando de centenas de línguas, milhares de deuses e rituais, alguns específicos de uma região. Ainda assim, o topo do panteão, no geral, era de Monan, o deus criador, que deixou o mundo sob a guarda de Tupã, um deus do trovão. De toda forma, os nativos não cultuavam seus deuses, mas os ancestrais.

Dos deuses e dos heróis do passado, ouviam histórias em volta da fogueira, um emaranhado riquíssimo de narrativas com ares mitológicos. Imagine algo como a mitologia grega, também desenvolvida antes da escrita. Uma pena que, no caso da cultura dos nativos brasileiros, não foi registrada, como Homero fez na Grécia, então sobraram retalhos para imaginarmos com pesar o que se perdeu.

Andando pelas trilhas, logo se perceberia mudarem também as receitas culinárias, com ingredientes cuja variedade de norte a sul até hoje nos surpreende. Além dos caules, folhas, raízes e frutas, uma infinidade de carnes de caça e de pesca, entre macacos, aves, peixes, tartarugas, jacarés, capivaras, formiga tanajura e por aí vai.

Outro equívoco comum sobre os nativos é a ideia de uma ocupação esparsa. Ora, só na cidade do Rio de Janeiro, região de mata exuberante, os relatos falam em centenas de aldeias, cada uma com 400 a 4 mil pessoas. Desdobrando para o continente, seriam facilmente dez milhões de indígenas. Para se ter uma ideia, a capital do império Asteca, Tenochtitlán, pode ter chegado a 300 mil habitantes, uma das maiores cidades do mundo na época, superior a Lisboa, Paris e Madrid juntas.

No Brasil, não havia cidades tão grandes. Mas a ocupação era densa. Do alto de um morro em praticamente qualquer ponto perto do litoral, que tendia a ter maior densidade populacional, seria possível avistar várias aldeias no entorno, as suas malocas se sobressaindo no arvoredo, clareiras das praças centrais e das plantações, com ondulações pela mata mostrando o caminho dos rios e das trilhas. Algumas aldeias seriam aliadas entre si, habitadas por parentes mútuos. Mais comum era que fossem inimigas. Pois, enquanto as mulheres cuidavam das plantações e dos bebês, era da guerra que os homens se ocupavam. Como é o padrão histórico humano, o poder tendia ao patriarcado.

Aquele era um mundo complexo, divertido, dançado, de uma abundância que favorecia o ócio, mas com risco constante de ser capturado numa emboscada e acabar comido num ritual inimigo. As pessoas acreditavam que, comendo um guerreiro corajoso, pegariam um pouco daquela coragem. Por outro lado, nesse sentido, ser comido significava a própria coragem reconhecida pelo inimigo, portanto, uma honra. Entre os tupinambás, havia o ditado: “a tumba mais honrada é o estômago dos inimigos”.

Este fato, de comerem pessoas, até hoje é usado para detratá-los. Mas é bom ter em mente que, atualmente, os indígenas já não comem inimigos, assim como os portugueses abandonaram o costume de queimar bruxas, como era comum na mesma época. Muito do que somos hoje, a culinária, a higiene, uma profusão de chás medicinais, a relação com o quintal, muitas palavras na língua, a nossa característica étnica, tudo isso é herança de um riquíssimo caldeirão americano.

Neste Dia Nacional dos Povos Indígenas (19/04), deixo aqui a minha homenagem. Com coração radiante, dou um viva aos povos originários.

*Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.

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